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O QUE APRENDEMOS COM “UMA MENTE BRILHANTE”
John Nash, o gênio da vida e da matemática que inspirou o fantástico filme Uma mente brilhante, faleceu este ano.
Baseado no livro homônimo de Sylvia Nasar, o longa-metragem produzido em 2001 foi um verdadeiro sucesso que ganhou quatro Oscars e incontáveis seguidores. Protagonizado por Russell Crowe, o filme nos oferece uma grande mensagem que nos convida a encontrar uma maneira de superar nossas limitações, sejam elas quais forem.
Aos que não conhecem a história de John Nash…
John Nash tinha 30 anos quando foi diagnosticado com esquizofrenia paranoide. A ambição saudável de sua mente privilegiada lhe impôs a carga de uma terrível doença que o devastava.
Era uma mente brilhante e de destaque quando tudo aconteceu. No entanto, nada o impediu na hora de perseguir seus sonhos. Depois de anos de tratamentos sangrentos que tentavam ajudá-lo a superar sua doença mental, John Nash conseguiu manter-se sem sintomas.
Aprendeu a conviver com vozes e com suas alucinações. John ouvia vozes, via coisas… mas pôde lidar com elas. Seu trabalho interno foi, como é óbvio, descomunal até o fim de sua dias. Logicamente viver sem ser capaz de discernir o que é real e o que não é foi muito complicado; no entanto, a mente brilhante de Nash conseguiu.
Nash ganhou o Nobel de Economia em 1994 por sua teoria dos jogos, ainda válida e útil no campo da estratégia. John combateu a esquizofrenia paranoide durante toda a sua vida. E, sim, conseguiu. Conseguiu levar uma vida completamente diferente da que sua doença lhes destinava.
Sua morte, como a sua vida, não foi a esperada. Em 23 de maio de 2015 Nash faleceu, junto à sua esposa, vítima de um acidente de trânsito.
Exemplo de superação e de esperança
Devemos muito a ele, não só por sua contribuição à ciência, mas por nos contar sua história e voltar “ao mundo dos sãos” para nos ensinar que, trabalhando nosso interior, todas as mentes são brilhantes.
John agarrou-se à sua inteligência e conviveu com as vozes em sua cabeça, apesar de ser sufocado por elas. Sua luta não foi fácil. No entanto, conseguiu entender que o caminho da sua vida estava na aceitação, e nos mostrou isso.
Então lhe bateu a inspiração. Ele conseguiu criar um mundo estável num lugar em mudança. Apesar de suas limitações, Nash conseguiu uma posição como professor do MIT, enquanto, por sua vez, recuperava o brilho que seu problema mental havia tentado apagar.
John Forbes Nash aprendeu a viver com a esquizofrenia durante toda a sua vida aplicando uma regra de acordo com a qual “todo problema tem uma solução”. Algo que, embora não seja válido para todos os doentes mentais, pode se adequar a muitas vidas de alguma forma:
Viver sabendo que grande parte de nossa dor é inevitável deveria ser uma premissa que todos deveríamos seguir. Sem dúvida, John nos ofereceu a chave para desfrutar da vida: aceitar, fluir e agir.
A esquizofrenia tem cura ou não?
Às vezes, o que uma pessoa precisa não é de uma mente brilhante que lhe fale, e sim de um coração paciente que lhe escute.
O jornalista investigativo Robert Whitaker conta que, durante muito tempo, a Lapônia Ocidental (Finlândia) tinha as taxas mais altas de esquizofrenia entre a sua população. Para termos uma ideia, ali moram umas 70.000 pessoas, e na década de 1970 e princípios de 1980, todo ano se davam vinte e cinco ou mais novos casos de esquizofrenia, o dobro ou triplo que no resto da Finlândia e da Europa.
No entanto, Yrjö Alanen chegou ao hospital psiquiátrico de Turku (Finlândia) em 1969. Naquela época, eram poucos os psiquiatras que acreditavam na possibilidade da psicoterapia como tratamento para as psicoses.
Alanen pensava que as alucinações e os delírios paranoides dos pacientes esquizofrênicos, quando eram analisavam cuidadosamente, mostravam histórias com sentido.
Assim, começaram a escutar os pacientes e as suas famílias. Criaram uma nova modalidade de tratamento que se denominou “Terapia Adaptada às necessidades dos pacientes”. No entanto, não se esqueceram de que cada pessoa é um mundo e fomentaram, por sua vez, a criação e adaptação de tratamentos específicos para cada caso.
Alguns pacientes teriam que ser hospitalizados, mas outros não. Além disso, alguns pacientes poderiam se beneficiar de doses baixas de psicofármacos (ansiolíticos ou antipsicóticos) e outros não.
Assim, como vemos, personalizavam e trabalhavam de maneira minuciosa cada caso, tornando-se conscientes das necessidades de cada pessoa e de cada família. Claro, as decisões sobre o tratamento eram conjuntas, valorizando cada opinião na medida adequada.
As sessões de terapia não giravam em torno da diminuição dos sintomas psicóticos, mas focavam nos êxitos e conquistas anteriores do paciente, procurando assim fortalecer o controle sobre a sua vida.
Desta maneira, o paciente não perde a esperança de ser como os outros, de manter uma normalidade e de conseguir ver mais além em vez de isolar-se.
Durante os últimos anos, a terapia Diálogo Aberto transformou o “ quadro da população psicótica” na Lapônia Ocidental. O gasto nos serviços psiquiátricos da região se reduziu enormemente e, na atualidade, é o setor com menor gasto em saúde mental de toda a Finlândia.
Os 25 novos casos de esquizofrenia ao ano se transformaram em somente 2 ou 3 casos anuais.
O que está claro é que as coisas podem ser feitas de outra maneira. Há outros tipos de tratamentos para as pessoas com esquizofrenia ou outras psicoses que garantam una vida diferente da que estamos acostumados a lhes proporcionar.
Submetemos os pacientes a terapias farmacológicas agressivas, eletrochoques e compaixão, muita compaixão. Não nos esqueçamos da pena, do medo e do desprezo que enchem os olhares que atribuímos a eles. Se somarmos isso, podemos colocar a mão no fogo pelo fracasso. E não nos queimamos.
Por isso, lembrem-se, sempre há melhores maneiras de agir. Entretanto, se como sociedade nos sentimos doentes, não conseguiremos ver que há uma luz maravilhosa no fim do túnel para todos.
TEXTO ORIGINAL DE A MENTE É MARAVILHOSA
ALGUMAS RESPOSTAS PARA A BANALIZAÇÃO DO MAL
Nas cenas do cotidiana, o mal se banalizou. Mais um exemplo são as cinco palavras, tatuadas à força na testa de um jovem de 17 anos: “Eu sou ladrão e vacilão”. A tortura ocorreu por ele ser suspeito de roubar uma bicicleta em São Bernardo do Campo (SP).
Agressão no adolescente gerou indignação, mas também admiração pelos internautas.
Somos um país que lidera o ranking mundial de linchamentos e homicídios, que banalizou assistir à população fazer justiça com as próprias mãos. Porém, podemos encontrar na filosofia e na psicanálise algumas respostas para entender a banalização do mal. Segundo Theodor Adorno, a principal característica da sociedade de massas não é somente a perda da individualidade, mas a perda da sensibilidade.
O que estamos assistindo todos os dias é a herança da apatia burguesa, que contaminou indivíduos de todas classes sociais, que se tornaram indiferentes a esses acontecimentos e que ainda defendem de forma odiosa essas atitudes brutais nas redes sociais.
Assim o mal embrutece determinadas pessoas diante do sofrimento causado pelo guerra, miséria, injustiça, tortura, repressão e barbárie, como sendo normal a coisificação humana. No seu livro “A Banalidade do Mal”, Hannah Arendt, mostrou que a multidão é incapaz de fazer julgamentos morais e insensível a toda dor e injustiça.
A psicanálise interpreta que a banalização do mal na sociedade atual é a vazão que algumas pessoas fornecem a sua pulsão de morte, conhecida como tânatos. Uma vez que odiosidade e a agressividade são forças que coabitam no ser humano e se manifestam nos conflitos banais de maneira mórbida em nosso cotidiano.
A pulsão de morte simboliza no interior do ser humano como autodestruição, e para o exterior se revela como pulsão de destruição. Por isso, existem pessoas que deixam o seu “demônio interior” falar mais alto, estabelecendo o limite entre o somático e o psíquico, arrastando o organismo a agir em direção do mal. Fiódor Dostoiévski escreveu que sabemos secretamente da existência de um demônio oculto, que habita em nós.
Não é por acaso que fundamentalismo político e religioso se aproveitam da banalização do mal, para destruir o espaço público, criando uma sociedade de indivíduos atomizados, que zanzam pelos shoppings centers tentam esquecer o medo da pobreza. Além disso, esse discurso de ódio desrespeita as diferenças e quer impor as suas normas através da força, condenando todos os que pensam de outro modo.
Entretanto para Jean-Jacques Rousseau o homem só se torna homem, ou seja, torna-se humano pela piedade e a piedade está presente nas pessoas de boa vontade, pois dessa virtude brotam a generosidade, a clemência, a bondade e a benquerença. São poderes mentais, emocionais e espirituais que colocados em ação asseguram a defesa da dignidade humana e recusam a banalização do mal, a fim de bloquearmos a “força luciférica”, que insiste morar dentro de nós.
Jackson César Buonocore, 19 junho de 2017. Psicologias do Brasil.
O Cérebro pode nos Levar a inassertividade?
Em artigo na Nature Neuroscience, cientistas descrevem descoberta de circuitos neurais envolvidos na impressão formada quando uma pessoa conhece outra.[Imagem: Schiller |
Estudos científicos recentes comprovam a veracidade do velho ditado, ” a primeira impressão é que fica”. Leia a matéria na íntegra.
Codificação das informações sociais
Um grupo de cientistas nos Estados Unidos identificou os circuitos neurais envolvidos na formação da primeira impressão em uma pessoa ao conhecer outra. A descoberta, que mostra como as informações sociais são codificadas e avaliadas ao fazer tais julgamentos, foi publicada neste domingo (8/3) no site da revista Nature Neuroscience.
Interações sociais são processos complexos do ponto de vista neurológico. Quando uma pessoa é apresentada a outra, frequentemente avalia rapidamente se gostou ou não do indivíduo que acaba de conhecer, mesmo que o processo seja inconsciente.
A primeira impressão fica
Estudos anteriores demonstraram que, como diz o ditado, a primeira impressão é a que fica: avaliações relativamente acuradas e persistentes são feitas com base em observações rápidas, muitas vezes de menos de meio minuto.
O novo estudo, feito por pesquisadores das universidades de Nova York, Tufts e Harvard, investigou os mecanismos cerebrais que dão suporte às impressões formadas imediatamente após conhecer alguém. Os autores montaram um experimento no qual examinaram a atividade do cérebro nesses momentos.
Características pessoais
Foram apresentados perfis escritos de 20 indivíduos fictícios, ou seja, 20 diferentes características pessoais, a 19 voluntários. Os perfis foram entregues junto com fotos de cada um dos indivíduos e incluíam cenários indicando traços positivos (como “inteligente) e negativos (como “preguiçoso”).
Após ler os perfis, foi perguntado aos participantes o quanto eles gostaram ou não de cada um. As impressões variaram dependendo de quanto cada participante valorizava os diferentes traços positivos e negativos envolvidos. Por exemplo, se um participante dava mais importância à inteligência do que à preguiça, caso os dois traços fizessem parte do mesmo perfil a impressão formada era positiva.
Durante o período de formação das impressões, a atividade do cérebro dos participantes foi observada por meio de ressonância magnética funcional. Com base nas notas dadas pelos participantes aos perfis, os pesquisadores puderam determinar as diferenças nas atividades cerebrais ao encontrar informações que eram mais importantes na formação das primeiras impressões.
Amígdala e córtex cingular
As imagens resultantes mostraram atividade significativa em duas regiões do cérebro. A primeira foi a amígdala, a pequena estrutura arredondada na superfície anterior do cerebelo que estudos anteriores ligaram ao aprendizado de objetos inanimados e a avaliações sociais baseadas em grupos familiares ou de confiança. A segunda região identificada foi o córtex cingular posterior, que atua em decisões relacionadas a dinheiro ou a recompensa.
“Mesmo quando encontramos muito brevemente alguém que não conhecemos essas regiões apresentam grande atividade, resultando em uma primeira impressão instantânea”, disse Elizabeth Phelps, professora da Universidade de Nova York e uma das autoras do estudo.